sábado, 23 de janeiro de 2010

A PESCARIA


Velho Zeca certo dia
Marcou uma pescaria
Botar rede na camboa
Tio Quincas também ia
Eu fui montado no jegue
O diabo que te carregue
Toda hora eu caía
II
O lugar era de mangue
Do outro lado salgado
Nem um pé de vassourinha
Pra se esconder do tornado
Caiu uma tempestade
Deus do céu por caridade
Fiquei todinho enrugado
III
Menino ainda pequeno
Fiquei debaixo do jegue
Tentando esconder da chuva
Um frio que arrenegue
Depois entrei num caixote
Emborquei no meu cangote
Ao trovão fiquei entregue
IV
A pescaria rolava
Maré cheia foi baixando
A chuva não dava trégua
O peixe foi encostando
Camboa toda fechada
Depois da água baixada
Os pemas foram chegando
V
E quando a maré baixou
Menino foi coisa feia
Peixe tentando voltar
Encalhava na areia
Pema parecia praga
E o cacete do chaga
Cobria eles de peia
VI
Era pra mais de quarenta
Na cabeça de menino
Coitado daquele jegue
Que era tão pequenininho
Peixe arrastava no chão
Quando chegamos então
Que inveja dos vizinhos
VII
Só sei que uma cabeça
Deu pra jantar todo mundo
Seis irmãos e os meus pais
Que comem no prato fundo
Sem contar as barbatanas
Comemos duas semanas
Terreiro ficou imundo
VIII
Um certo dia em São Paulo
Contei pro primo Messias
Que o meu pai tinha feito
Uma grande pescaria
Messias meio sapeca
Perguntou pro Velho Zeca
Que disse que não sabia
IX
Pra mim o pema era enorme
Que grande decepção
Velho Zeca pôs o dedo
Aonde começa a mão
Aí era pilombeta
E minha grande falseta
De repente foi ao chão
X
Me sentindo inconformado
Tio Quincas fui visitar
Aquilo não tava certo
Ele iria confirmar
Sentados naquela mesa
Qual foi a minha surpresa
Disse nunca fui pescar
XI
Essa história é verdadeira
Messias vai confirmar
Resposta pro Velho Zeca
Galope vou lhe pagar
Seu galope não é xoto
Faz versos que nem garoto
Nos noventa eu vou pra lá!!!

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