sábado, 23 de janeiro de 2010

O POETA E O CIGANO


Era uma vez um poeta
De casamento marcado
Sua amada foi com outro
Um cigano mal falado
Poeta perdeu o rumo
Cigano foi premiado
II
Seu verso caiu doente
A rima perdeu sentido
Por onde o poeta passa
Tem cochicho de ouvido
Desejo levou a moça
Amor caiu abatido
III
Poeta peito sangrando
Perdeu o gosto da vida
Nada mais lhe importava
Faltava sua querida
Partiu à procura dela
Pelo mundo sem guarida
IV
Cigano sem paradeiro
Qualquer lugar é morada
Sua casa é a natureza
Já nasceu nessa toada
Tomando banho de rio
Com a nova namorada
V
Os ciganos e leões
São de fato parecidos
As mulheres na labuta
Os homens noutro sentido
Moça logo demonstrava
Que tinha se arrependido
VI
Cigano muito valente
A todos metia medo
Numa cabana de palha
Debaixo dum arvoredo
Instalou-se com a jovem
Foi falando sem segredo
VII
Sou domador de mulheres
Agora faça o que digo
Você vai fazer dinheiro
No cabaré de castigo
Os seis dias da semana
Domingo fica comigo
VIII
Seja dia ou seja noite
Não recuse freguesia
Receba bem o cliente
Demonstrando alegria
O dinheiro apurado
Recolho no fim do dia
IX
A jovem então sentiu
A terra faltar nos pés
Lembrou-se do seu poeta
Vida cheia de viés
Passarei de mão em mão
Nas camas dos cabarés
X
Enquanto isso ocorria
O poeta sem guarida
Procurava sua amada
Em terra desconhecida
Sem saber da sua sina
Agora mulher da vida
XI
Poeta não costumava
Fazer trabalho pesado
Nas andanças pelo mundo
Teve que comer dobrado
Passou fome passou frio
Sofreu qual um condenado
XII
Certa noite teve um sonho
Sua amada lhe dizia
Preciso da sua ajuda
Me tira dessa agonia
Resolveu voltar pra casa
A saudade lhe batia
XIII
A jovem moça vivia
Regime de escravidão
Virou um trapo de gente
Orgulho a baixo do chão
Cigano só na orgia
Dá carta e joga de mão
XIV
O poeta de regresso
Parou um dia bem cedo
Numa cabana de palha
Debaixo dum arvoredo
Sentiu um forte arrepio
Arrepio de dar medo
XV
A cabana abandonada
Perto da beira do rio
Serviu de ninho profano
Disse ele quando viu
Um pé de chinelo dela
Ser coração se partiu
XVI
Beijou o pé de chinelo
Da sua mulher amada
Montou no seu alazão
Coração em disparada
Partiu a todo galope
Cavalo comendo estrada
XVII
Chegando no povoado
Como todo forasteiro
Procura a casa das moças
Carinho pelo dinheiro
Pediu uma boa cama
Com moça de travesseiro
XVIII
Pela dona do bordel
Poeta foi conduzido
Sua moça não demora
Está botando vestido
A moça entrou no quarto
O poeta adormecido
XIX
Acordou de sobressalto
A camareira lhe chama
Do lado da sua roupa
Um bilhete sobre a cama
“Da garupa do desejo
Caí de cara na lama”
XX
O poeta reconhece
A letra da sua amada
Na mente passou o filme
Da procura obstinada
Valeu a pena o esforço
Acabou a caminhada
XXI
Quero falar com Maria
Disse ele à camareira
Hoje é domingo seu moço
Trabalha de cozinheira
É festa da ciganada
Só volta segunda feira
XXII
Tem um grande acampamento
Na saída da cidade
Lá cozinhei muitos anos
Nos tempos de pouca idade
Agora é vez de Maria
Suportar essa maldade
XXIII
Não tenho nada a perder
A vida me foi ingrata
Vou lhe provar que poeta
Não tem sangue de barata
Hoje eu mato um cachorro
Ou o cachorro me mata
XXIV
O cigano era cacique
Na região afamado
O pai de moça bonita
Por ele subjugado
Ou trabalhava pra ele
Ou morria assassinado
XXV
O sol já ia baixando
Quando o poeta chegou
Mata fechada protege
A visão do bangalô
Ciganos se despedindo
A festa já acabou
XXVI
Maria feito criada
Saiu na porta da frente
Poeta fez um sinal
Dos tempos de adolescente
Maria tremeu na base
Ficou muda de repente
XXVII
Não sabia da coragem
Do poeta forasteiro
Resolveu naquele instante
Bastava de cativeiro
Fez um sinal positivo
Pro seu amor verdadeiro
XXVIII
Pegou uma carabina
Que costumava limpar
Cigano chamou Maria
Sua puta vem deitar
Poeta tomou a arma
Cigano vai me pagar
XXIX
Poeta foi casa a dentro
Cigano não esperava
Apontou a carabina
Maria lhe acompanhava
Eu sempre sonhei, um dia
A tua hora chegava
XXX
Vais pagar o sofrimento
De todas as prostitutas
Que de moças de família
Tu transformastes em putas
E a vida dos seus pais
Tiradas na força bruta
XXXI
Sapecou tiro certeiro
No meio do coração
O cigano poderoso
Caiu de cara no chão
Poeta levou Maria
Montado em seu alazão
XXXII
Perdão foi feito pra dar
Todo mundo erra um dia
Poetta preparando
Seu livro de poesias
Rancores fora da mente
A vida é daqui pra frente
O Poeta e a Maria!!!

2 comentários:

  1. Zé Orestes te admiro
    Com respeito e carinho
    Leio todos seus romances
    Estando em casa ou a caminho
    Quantos você escrever
    Guardarei em meu cantinho...

    Gostei muito do romance
    Da Pedra lá do Capim,
    O Poeta e o Cigano
    Teve um dos melhores fins
    Uma história de amor
    Parece feita pra mim
    Inteligência assim
    Só Orestes do Capim.

    Graças Santos. Cruz-CE.

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  2. Olá Graça, Um beijo carinhoso pra você!!
    Muitíssimo obrigado por ler meus textos, e ainda, pelo comentário gentil. Abraço grande!!

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