domingo, 28 de dezembro de 2014

AS PERNAS DA MINHA DEUSA


Moça da perna de louça

Que eu não posso pegar

Minha vida é reparar

Se te vejo pelas ruas

O sol que lhe botam nuas

Faz de mim atordoado

De olhar paralisado

Vendo arte de museu

Pilares de coliseu

Torneados no marfim

Espelho de manequim

Nos olhos de quem te vê

Um dia vou te fazer

Os postes da minha rua

Um monumento pra lua

Pra te tornares eternas

E fazer todas as pernas

Do jeito que são as tuas!!!

PADREBÉNS


Sou eu quem conta a idade

Do nosso Padre querido

De tanto tempo vivido

Sou eu a cronologia

Todo ano sou um dia

Na vida do seu Vigário

Sou o seu aniversário

Presente nos seus cabelos

Nas rugas dos cotovelos

Que não tardas perceber

Parabéns para você

Cordeiro da esperança

Cordeiro que não se cansa

De orar por todos nós

Como sou fraco de voz

Pedirei para a noviça

Que leia isto na missa

Pra todo mundo saber

Da força do bem-querer

Que reina na tua igreja

Teu dia bendito seja

Na boca do bendizer!!!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

SERENATA DO JUBILEU

 












Acorda Senhor Vigário
Raiou o cinquentenário
Queremos lhe aplaudir

É dia de Magnata
Vem ouvir a serenata
Que fizeram para ti

Interrompe a madrugada
Sai um pouco na sacada
Depois volte pra dormir

Se o Senhor não se incomoda
Vamos cantar uma moda
Para a porta se abrir

Acorda seu Valdery
Te levanta vem ouvir
A cantiga do plebeu

Se estiver acordado
Já estamos perdoados
De quebrar o sono teu

Perdoe o fora de hora
Do povo que vem de fora
Cantar no teu apogeu

Um tributo merecido
Pro nosso Padre querido
Na data do Jubileu

Acorda seu Manoel
Vem ouvir o menestrel
Na modinha caipira

É coisa que não demora
Depois nós vamos embora
A seresta se retira

Aceite mais essa prenda
Em forma de oferenda
Do povo que te admira

Se não foi do seu agrado
Eu me dou por condenado
Me enforco na imbira!!!

sábado, 29 de novembro de 2014

MANOEL CAIU DO CÉU

















No ano de trinta e oito

No trinta e um derradeiro

Por pouco não é janeiro

Da folha do outro ano

Nascia ali por engano

No meio do choramingo

Entre a sexta e o domingo

Um menino especial


Um presente de Natal

Para João e Maria

Motivo de alegria

Pro festejo natalino

Seu tino já de menino

Lhe tornaria vigário

Seguiu para o seminário

Da cidade de Sobral


Depois ja na capital

Se deu a ordenação

Primeira celebração

Para seus paroquianos

Já com vinte e seis anos

Na sua terra natal

Por ordem celestial

Para nós foi enviado


Um alvoroço danado

O povo todo aflito

Pra ver o Padre bonito

Que ganhamos de presente

Nosso maior expoente

Já visto e acontecido

Homem havido e sabido

Patrimônio da cidade


Deus lhe dê longevidade

Pra cuidar do seu rebanho

Um homem com seu tamanho

Não cabe vida pequena

Tens o brilho da patena

Que reluz sobre o altar

Impossível de contar

As obras realizadas


Crianças catequizadas

As casas paroquiais

Os recantos pastorais

Escola fundamental

A radio paroquial

Conselhos e comissões

Muitas realizações

Fez obra até a canela


Fez escola fez capela

Pregou o ensinamento

Fez a obra de cimento

E a obra que não se vê

Queremos oferecer

Metade e meia do céu

Ao nosso Cônego Manoel

Nosso filho de Maria


Quem vem no último dia

Já trás consigo a demora

Nem pense de ir embora

Antes de fazer os 100

Seja um Matusalém

Diante da sua igreja

Seu nome bendito seja

Dominus vobiscum, amém!!!



quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A IDADE


       
A idade é como o vento

De vagareza constante

A idade é um instante

Que passa despercebido

 

É um menino crescido

Se preparando pra vida

É explosão incontida

Na força da mocidade

 

É um pouco de saudade

Do menino já maduro

É anseio de futuro

No segundo do ponteiro

 

É tempo que vai ligeiro

Nos braços do aconchego

É um vôo de morcego

Nos arredores da vida

 

É a família crescida

È uma taça de vinho

É asa de passarinho

Voando no infinito

 

É o tempo mais bonito

Do menino já vivido

É destino já cumprido

É vida que se apaga

 

É peito livre de mágoa

No descanso merecido

Uma mão no comprimido

A outra no copo d'água!!!

quinta-feira, 10 de julho de 2014

A PEDRA DO CAPIM (2ª Edição)


 









A PEDRA DO CAPIM
          (2ª Edição)
Vou contar neste romance
Uma história verdadeira
Passada nos anos vinte
Depois da guerra primeira
No lugarejo Capim
Terra de Lúcio Teixeira
A história de uma pedra
Uma pedra feiticeira
                 
Dona Raimunda Nonata
Mulher de Lúcio Teixeira
Um braço dos Vasconcelos
De família pioneira
Mandatários do Capim
Terras de carnaubeiras

Janeiro de vinte e três
A mão ficou sem a luva
Faleceu Lúcio Teixeira
Raimunda ficou viúva
A falta do companheiro
Promete tempo de chuva
Certo dia um mascate
Por alcunha de Alfredo
Arranchado em sua casa
Lhe vendia um segredo
Era a pedra do mistério
Que moça não põe o dedo
                
Escute Dona Raimunda
Você vai me prometer
Só depois da menopausa
A mulher pode lhe ver
Se lhe quebrar o encanto
Você vai se arrepender
   
É coisa muito miúda
Muito fácil de guardar
Não mostre na claridade
Não deixe ninguém olhar
Só retire do baú
Na hora que for usar
              
A pedra tira veneno
De mordida e ferroada
Seja de bicho pequeno
Seja de cobra afamada
Aonde tiver veneno
A pedra fica grudada

A Senhora me conhece
Disse o velho comboieiro
Se não for como lhe digo
Me arrancho no terreiro
Aceito a pedra de volta
E lhe devolvo o dinheiro

Alfredo passa remédio
É Doutor na freguesia
Sua receita não falha
Curandeiro de valia
No fio do seu bigode
Dona Raimunda confia
Custa cinqüenta mil réis
Mas é coisa de primeira
Dona Raimunda vendeu
Duas arrobas de cera
É muita palha cortada
É muita carnaubeira

Por capricho do destino
Numa noite sem luar
A filha Ana Joaquina
Veio a pedra inaugurar
Jararaca no escuro
Cravou no seu calcanhar
 
A notícia dessa pedra
Se espalhou na região
Sua fama foi crescendo
Qual bando de lampião
Até a cobra já sabe
Da pedra da salvação

Ninguém sabe da origem
Nem sua composição
É um completo mistério
Ninguém dá definição
Se é prata se é ouro
Se é pedra se é torrão
            
Parece do outro mundo
Parece dona da força
Parece escama de peixe
Parece unha de moça
Parece casca de ovo
Parece caco de louça

Todo bicho venenoso
Se curva diante dela
Uma pedra poderosa
Ta sempre de sentinela
Na hora de dar o bote
A cobra já pensa nela
 
A pedra perdeu a conta
Das pessoas que salvou
Gente já desenganada
Carregados em andor
Gente pobre gente rica
Gente contra e a favor

Um corpo desfalecido
Trazido de animal
Cruzado sobre o cavalo
Em estado terminal
Caiu em cima do bote
Na rudia da Coral
O homem já não falava
Não dava sinal de vida
A pedra ficou grudada
Feito casca de ferida
O homem saiu andando
A pedra no chão caída
            
Outro dia na vazante
Apanhando algodão
Uma cobra agarrou
O dedo do meu irmão
Ele balançava o pé
Dava lapada no chão
Fomos correndo pra casa
Envenenados de medo
Antonia de Vasconcelos
Examinou o seu dedo
Corre pro Jenipapeiro
Veneno não é brinquedo

Chegamos no João Lúcio
Eu me sentei na calçada
Esperando que a pedra
Não fosse ficar grudada
A língua tava pra fora
Da carreira da estrada
Meu irmão ainda vive
A cobra lhe enganou
Na saída já corado
Airton me segredou
É uma casca de ovo
Não derruba beija-flor
            
Tempo depois uma freira
Da banda de Pirituba
Infestada de peçonha
Não andava sem ajuda
Foi na Rural do Bureta
Levada pra Macajuba
 
Saiu de lá caminhando
Chorando de emoção
Sua cadeira de rodas
Levada pra doação
Quem rezava obrigada
Reza sem obrigação
           
Passado recentemente
Com Tânia moça bonita
Seu pé já estava roxo
Quando chegou na visita
Uma hora de veneno
Na Pedra da Dona Rita
Um pescador afamado
O Lorinho do Arpão
Disparou o seu gatilho
Um tiro de campeão
Sua mão foi espetada
Na ponta do esporão
            
O bagre quando tá chôco
Pescador não vá pescar
Sua dor era medonha
Quando voltava do mar
A cada cinco minutos
Parava pra desmaiar
 
Chegou na casa da Pedra
Desmaiado no sofá
Veneno pra oito horas
Até o dia raiar
Toda vez que me encontra
Me convida pra pescar

O menino distraído
Brincava no seu terreiro
A cobra também estava
Escondida no canteiro
Menino passou raspando
Caiu no bote certeiro

O menino deu um grito
Já caiu desfalecido
Seu corpo todo estralava
Esqueleto enrijecido
Trocado por um bazé
Era dinheiro perdido

A coral mandou veneno
Da cabeça até o pé
Passou a noite na Pedra
Com olhos de caburé
Quando amanheceu o dia
Tava tomando café
         
A moça não conhecia
A história do cordel
Sua crença não passava
Do romance no papel
Um dia foi vitimada
De um inseto cruel
            
Pôs a calça sobre a cama
Pra vestir roupa folgada
Enquanto tomava banho
A lacraia fez morada
Quando vestiu novamente
Já sentiu a ferroada
           
Nem preciso lhe dizer
Da dor que ela sofreu
O veneno do inseto
Sua perna adormeceu
A Pedra fez o trabalho
A moça se convenceu


O macaco foi criado
Na corrente no terreiro
Seu dono desavisado
Cortou o seu cajueiro
O bicho ficou irado
De modo mais traiçoeiro

A mágoa ficou guardada
Até poder se vingar
Seu dono não esperava
Que fosse lhe atacar
Cortou de uma dentada
O tendão do calcanhar
 
A perna toda do homem
Estava comprometida
Salmôra do inflamado
Escorria da ferida
A pedra só não fechou
O buraco da mordida
 
O inseto não escolhe
Aonde pode picar
Pica velho pica moça
Pica tudo quanto há
Pica lugar escondido
Que eu não posso contar

Mas é trabalho perdido
Enquanto a pedra viver
Oinseto que procure
Outra coisa pra fazer
Se levar na Dona Rita
Nem adianta morder  
A Medicina gastou
Mil anos a pesquisar
O soro antiofídico
A cobra mesmo é quem dá
Usa do próprio veneno
Pro veneno retirar
            
Quem tem a foto da cobra
Bordada no avental
Rebate o uso da pedra
Como se fosse do mal
A Pedra não se incomoda
Nem sabe quem é o tal
A Ciência acredita
No que possa comprovar
O Doutor bem que podia
Deixar a cobra picar
Eu garanto que a Pedra
Não ia discriminar
                   
O Vigário, generoso
Que ensina acreditar
Na sua sabedoria
Manda lhe recomendar
Tem uma queda por ela
Espera não precisar


Na casa da Dona Rita
Vem gente de todo canto
A pedra é venerada
Feito milagre de santo
Só não pode tirar foto
Pra não quebrar o encanto

Antigamente só ia
Quem tinha sido mordido
Hoje vai gente caída
Gente com dor de ouvido
Com ibigo estufado
Com o dedo dismintido

A cobra ultimamente
Não manda quase ninguém
Vem gente pra tirar febre
De doença que não tem
Gente  com cisco no olho
Com berruga no sedém

Todo dia tem alguém
Já virou uma rotina
Vai gente que se curava
Tomando uma aspirina
Vai gente queimar o dedo
Queimado na lamparina

A pedra hoje não dorme
Com tanta gente na porta
É gente com pé inchado
É gente da boca torta
É gente com dor na unha
A doença não importa

Dona Rita não se nega
Já se sente obrigada
Não tem dia não tem hora
Nem doença medicada
Bota pedra tira pedra
Por coisa que não é nada
   
No ano de vinte e sete
Ela foi adquirida
Lá se vão oitenta anos
E ela sempre na lida
Um dia toma veneno
No outro lambe ferida
           
A pedra não vê o sol
Nem quando muda de mão
De forma hereditária
Se morre seu guardião
Quando vai pra outra casa
É levada no surrão
            
O parente escolhido
Recebe como herança
A pedra é transmitida
Com dote de confiança
Feliz de quem manipula
A pedra da esperança
             
Com a morte de Raimunda
Ursula ficou na missão
Depois veio Manoel
Seu terceiro guardião
De Manoel para Rita
Continua a tradição
José o filho mais velho
De Rita e Manoel
Se nada lhe aconteça
Assumirá o papel
Um pilar dos Vasconcelos
Um mandatário fiel
         
Dona Raimunda se foi
Mas deixou a sua obra
Sua pedra encantada
Já fez milagres de sobra
Só falta tirar veneno
Diretamente da cobra
          
Maria Elizabeth
Em obra já publicada
Contou a mesma história
Não lhe mudei quase nada
Apenas contei em versos
Uma história já contada
           
Sou bisneto de Raimunda
Na linhagem feminina
De Geralda veio Antonia
Sua terceira menina
A fibra dessas mulheres
Me orgulha e me fascina
                
Termina aqui meu romance
Já que tudo tem um fim
A saga dos Vasconcelos
Não pode parar em mim
Outro dia vi a pedra
A Dama do camarim
Uma jóia de herança
Da Raimunda do Capim!!!  
 

terça-feira, 27 de maio de 2014

A PELEJA DOS IRMÃOS


PELEJA 

Não sei se tenho cacife
Para tamanho insulto
Pois diante do cacique
Eu sou apenas um vulto
Mas venho desafiar
O meu irmão centenário
Num duelo literário
Caso queira replicar 
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar

Responda-me se souber
E até pode pesquisar
Quem foi o filho de Ester 
Que fim levou Barrabás
Quem foi o mais rico rei
Citado nas escrituras
Quem saiu da sepultura
Depois de cristo chamar
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar

Fale-me sobre os malvados
Da época da inquisição 
O apelido dos soldados
Que mataram Lampião
Quem entregou o bastão
Para dom Pedro II
Por que João Paulo II
Não se deixou abalar
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar

Fale-me quem resgatou 
As cinzas do catarismo
O que a gestapo ganhou
Com todo seu terrorismo
Quantas vidas tinha Hitler
E se morreu de verdade
Ou se sua vaidade
Inda vive a nos matar
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar

Responda sem usar cola
A onde reside a paz
Quantos lados tem a bola
E também me diga quais
Diga-me quem foi Graham Bell
Quem inventou a verdade
O filho da majestade
Que nome a ele se dá
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar
 

Por que é que na política
Tem tanta marionete
E por que quem mais critica
É quem menos se compromete
Qual é a maior virtude
Que a mulher deve ter
Me fale sobre o poder
Que ela traz no olhar
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar

Fale-me de um personagem
Presente nas nossas vidas
De rústica embalagem
Mas de essência nutrida
Quem é esse professor
Que sabe tudo da terra 
Que sua semente enterra
Pra nossa fome matar
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar

Vou ficando por aqui
Sem pose, sem protocolo
Toma teu abacaxi
Dorme com ele no colo
Deixe os neurônios despertos
Enquanto eu me arregalo
E se acaso descascá-lo
Do suco eu quero tomar 
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar.

Desafio Orestes Albuquerque
 
 
RESPOSTA DA PELEJA
 
Replico pequeno insulto
Que mais parece um algueiro
Repilo pequeno vulto
Que nem saiu dos cueiro
Deu de me desafiar 
Com pergunta de menino
Esse frangote franzino
Não sustenta caçuá
Começa aqui a peleja
Que o Senhor te proteja
Do vício de gaguejar

Pelos meus conhecimentos
Pelo que tenho escutado
Ester não teve rebentos
Pra seguir o seu reinado
Barrabás desaparece
No meio da confusão
Rei dos reis foi Salomão
O maior que se conhece
Depois de ser enterrado
Lázaro foi ressuscitado
Debaixo de muita prece

Inquisidores hereges
Senhores da malvadeza
Um câncer que permanece
Nas paredes da igreja
Até João Paulo II
Confessou envergonhado
Falemos noutro reinado
Do outro lado do mundo
Aqui D. Pedro I
Abdicou ao herdeiro
Seu filho Pedro II

Os “macacos” da volante
Que mataram Lampião
Caçada aos protestantes
Catarismo no sertão
Movimentos esmagados
Sem pena nem piedade
A gestapo da maldade
Da ira do cão malvado
Adolf Hitler tirano
Pegava um milhão de anos
Não tivesse se matado

Na casa dos namorados
A paz me disse que mora
A bola tem dois lados
Um de dentro e um de fora
Quem inventou a verdade
Não tinha tanta certeza
Tem o nome de Alteza
O filho da Majestade
O invento de Grahm Bell
Reside na Embratel
E outras localidades

Marionete de fato
É quem não tem compromisso
Só se põe a candidato
Quem não gosta de serviço
O poder da sedução
Que mata e aprisiona
Deixa o caboco na lona
Parece constipação
A virtude que ela tem
Eu não conto pra ninguém
Ta dentro do coração

Este homem que semeia
Semente no nosso chão
Que fornece nossa ceia
Com toda dedicação
Me lembrou uma pessoa
De nome Zeca Muniz
Que só estava feliz
Quando dava chuva boa
Merece todo respeito
Agricultor tem direito
De receber a coroa

Espero ter respondido
Satisfeito sua meta
Podia ter resolvido
Mas pedi pra minha neta
Com esta breve resposta
A peleja se completa
Quando for me perguntar
Pergunte pra me calar
Já que você é poeta

Sua rima é muito rica
Me deixou encabulado
Zeca Muniz lá de cima
Ta te mandando recado
Quero fazer a peleja
Com verso simplificado
Quando for me perguntar
Me bote pra gaguejar
Não seja tão acanhado

Quero que você me diga
“Cinco vez incarriado”
Desculpe meu mano veio
Não dormi apavorado
Eu tava era “prosiano”
Já estou todo borrado
Quero que você me diga
Se cabeça de lombriga
É vista de qualquer lado

Imagino uma peleja
Onde eu possa perguntar
Por que a noite se manda
Na hora do clarear
Me diga se no papoco
Inda tem o papocar
Quero que você me diga
Se mordida de formiga
Respeita tamanduá

Me diga com quantas brigas
Se faz uma confusão
Quem fez o dado quadrado
E sua numeração
O primeiro empregado
A primeira oração
Veja aí no almanaque
Quem botou o tic-tac
Pra bater no coração

Me diga que água é essa
Que escorre da serpentina
O que estava escrito
No diário da menina
Se eu usava topete
No tempo da brilhantina
Quando for me responder
Não esqueça de dizer
“O cheiroso das meninas”

Eu vivo de fazer verso
Principalmente rimado
Confesso ter me sentido
Bastante lisonjeado
Ao receber o convite
Do meu irmão adorado
E quando me responder
Não esqueça de dizer
Do meu retrato guardado!
 


TRÉPLICA REPLICANTE

Confesso que apetecia
Respostas mais consistentes
Mas sua modesta poesia
Da nem pro buraco do dente
Traga mais filosofia 
Quando for me responder
Pois não vejo em você
Um possível oponente
Se prometer melhorar
Deixo você disputar
Uma vaga de suplente

Vaca preta boi pintado
É do tempo das antigas
Tamanduá é respeitado 
No universo das formigas
Me diga três vezes rápido
Toco cru pegando fogo
E pra esquentar o jogo
Não tem cabeça a lombriga
Pois se cabeça tivesse
Não suportava o estresse
De morar na tua barriga

Essa coisa de papoco
Me deixou meio intrigado
Eu juro que entendo pouco
Desse seu palavreado
Não sei se mereces troco
Mas uma coisa eu confesso 
No pipoco dos meus versos
És tu quem sai papocado 
Não estou pra brincadeira
Se for pra falar besteira
É melhor ficar calado

A água da serpentina
É extraída do ar
É tão pura e cristalina
Que dá até pra tomar
O diário da menina 
Tem segredos que é só dela
E vai ficar com seqüela
Quem dele se aproximar
Agora bem mais moderno
Ao invés de um caderno
É uma tela de tocar

O dado só é quadrado
Pra dar o numero preciso
Vinte e um é pontuado
A Índia é seu paraíso
Acertar é complicado
Tu sabes bem como é
Pois na banca do Paté
Tu cansou de ficar liso
E a noite se mandava
E quando o dia raiava
Tu inda estava indeciso

Não consta em meu dossiê 
Do primeiro empregado
Mas penso que foi você
Por seu estágio avançado
Pois vieram me dizer
Que passou trezentos anos
Apenas estagiando
Só depois foi contratado
A oração começou
Logo após Enos nascer
Assim Genesis vem dizer
Nos seus escritos sagrados

Uma briga somente
Já é uma confusão
O sopro do onipotente
Fez pulsar o coração
Falando sinceramente
Do seu topete eu não sei
O seu retrato eu guardei
Mas não foi por devoção
Também não foi por carinho
Foi pra espantar passarinhos
No meio da plantação

Lisonjeado estou eu
Por ser irmão de quem sou
Zeca Muniz escreveu
Que tu és um professor 
O nosso pai não morreu
Para o mundo literário
Nos emprestou o cenário
E um pouco do brilho seu 
Esteja onde estiver
Ta aplaudindo de pé
As fagulhas que acendeu



PELEJANDO

Meu mano, querido mano
Continuando a peleja
Vou fazer simplificado 
Como café na bandeja
Depois da sua resposta
Vamos brindar com cerveja
Me fale de um combustível
Que é insubstituível
Quando a jangada veleja

Vou lhe fazer uma pergunta
Que nunca fiz a ninguém 
Dúzia e meia de cangalhas
Quantos cabeçotes tem
E aproveitando o embalo
Quero que diga também
Se o fogo do salgado
Ainda assusta alguém
Se o assovio do sundário
Inda é no mesmo horário
Ou já se foi pro alem 

Me diga se nutricionista
Se alimenta como orienta
Por quê que o papagaio
Fala, mais não comenta
Quem injetou capsaicinóide
No interior da pimenta
Responda para o povo
Se a gema do ovo
É feto ou é placenta

Responda com segurança
Sem truque, sem arte-manha 
Se o fruto do cajueiro
É caju ou é castanha
Por quê que a pedra é furada
E o autor da façanha
Se antes de ser Jeri
Era serrote ou montanha 
Qual a sua opinião
Sobre a privatização
Da nossa praia risonha

Por que, que onça pintada
Não come carne vermelha
Como fica a humanidade
Com a extinção das abelhas 
E se a lei da palmada
Merece puxão de orelha
Por que é que o pastor
Tece o seu cobertor 
Com a pele das ovelhas

Me responda se a fé
É irmã da esperança
E se o nosso café
Nos representa na França
De onde veio a família
Dos Orleans de Bragança
Me responda sem desdobra
Quanto é que você cobra
Pra assustar uma criança? rsrsrs



RESPOSTO

Resposto seus pobres versos
Mais fracos que chá de “bila”
A jangada só navega
Se o vento lhe ventila
Sua bebida se presta
Para moças de família
Declino do seu convite
Pois só abro o apetite
Numa dose de tequila

São trinta e seis cabeçotes
Com dois em cada cangalha
Um atrás e um na frente
aonde o ovo chacoalha
O velho fogo da ilha
Era só fogo de palha
Não quero ver você triste
Mas sudário só existe
No manchado da toalha

Só nutre quem é nutrido
Deixe a menina comer
O papagaio comenta
Sobre tudo que ele vê
Os alcalóides picantes
To mandando pra você
A gema que alimenta
Nem é feto nem placenta
É parte do “dicumê”

O caju não se fecunda
É tira-gosto de pinga
Quem fez o furo na pedra
Não morava na zaninga
Procure lá no Serrote
Quem foi esse baitinga
Agora vem um esperto
Diz que tava “no aberto”
Vai sobrar só a catinga

Pintura não come carne
Já que a onça é pintada
As plantações sem abelhas
Ficam esterilizadas
Bato palmas para a lei
Que inventou a palmada
Pastor é PhD
No modo de “recolher”
Da classe necessitada

A fé sem a esperança
É torno sem o torneiro
Nosso crioulo é famoso
Bebido no mundo inteiro
Os Orleans e Bragança
Vieram do estrangeiro
São da família real
Do reino de Portugal
Invasores pioneiros

Uma criança assustada
Foi o que me pareceu
Um menino acanhado
Que o pirulito perdeu
Se for pra morrer de medo
A peleja pereceu
Só falta fazer beicinho
Dizer chorando baixinho
Eu juro que não fui eu

Não vou perguntar agora
Pra não te ver constrangido
Um rapaz de meia idade
Pode ficar deprimido
Melhor gastar com cerveja
Que gastar com comprimido
Me bote na saia justa
Vê se um dia me assusta
Ou me põe aborrecido!
 



PERGUNTADOR
 
Minhas perguntas perguntam
Depois de ter respondido
Embora neste momento
Lhe veja um pouco abatido
Sua peleja me chama
Já me deixou envolvido
Pego na velha prancheta
O papel e a caneta
E o verso ta exprimido
 
Pra onde vai o amor
Quando o romance acaba
Onde está o jabuti
No pé de jabuticaba
Quanto tijolo te sobra
Depois que a casa desaba
Diga numa rima só
Se sua escanxavó
Subia na piaçaba
 
Quem foi que inventou a dor
E o primeiro comprimido
Quem notou a diferença
Da orelha pro ouvido
No que o vendo esbarra
Quando muda de sentido
Se a morte já morreu
O dia que faleceu
E a cor do seu vestido
 
Quem fez a primeira porta
E o primeiro cadeado
Qual o primeiro ladrão
E o primeiro delegado
Diga o que faz a balança
Pender para um dos lados
Me diga se carrapato
Finca dente no sapato
Pra se ver alimentado
 
Quem pintou o arco-íris
Que tinha lápis de cor
Como veio o alfabeto
E o primeiro professor
Por que a pobre galinha
Que já se cobre de dor
E não se queixa de mágoa
Por que tem que beber água
Se não tem um mijador
 
Me diga por derradeiro
Quais são as forças do mal
Quem salgou os oceanos
Donde tirou tanto sal
Se vierem prostitutas
Na jangada de Cabral
Por que a constância morre
Enquanto eu fico de porre
Terminado o carnaval


RESPOSTADOR
Minhas respostas respondem
Enquanto a peleja esquenta
Por que ao invés de açúcar
Mamãe passou foi pimenta
Diante do meu teclado
Prancheta se arrebenta
Quando for me perguntar
É melhor se preparar
Pois a resposta é marrenta

O amor é canibal
E só de amor se alimenta
O jabuti ta no nome
Desta arvore opulenta 
Os tijolos ficam todos
Não falta e nem acrescenta
Sobre minha escaxavó
Pergunte pra sua vó
Quem sabe, ela te orienta!

A dor não foi inventada
E dela ninguém se isenta 
A morte não é punida
Pela dor que representa
Quem vê a cor do vestido
Certamente não comenta
Caxete era comprimido
Mãozada no pé duvido 
Muda o rumo da venta 

Theodoros de Samos
O cadeado inventa
Trancando bem sua porta
Caim não lhe atormenta
A gravidade injusta
A balança movimenta 
O delegado e o carrapato
Usufruem do mesmo prato
É o sangue que os sustenta

As cores do arco-íres
É o sol quem pigmenta
Os primeiros professores
Que a historia comenta
Foram, o alfa e o Beto
Filhos da mesma placenta
Sem água, a esposa do galo
Ressecaria o gargalo
E morreria sedenta 

A força do mal é forjada 
Nas mentes mais fraudulentas 
É com o movimento das águas
Que o sal se desfragmenta
Cabral não trouxe mulheres
Mas até hoje lamenta
Se a constância vai mal
Num porre de carnaval
Outro porre não agüenta.

Só não fiz mais rima com “enta”
Pra não parecer abusado
Pois tenho mais de noventa
Palavras com este rimado
E que na próxima peleja
Mais apto você esteja
Pra não ficar desolado