domingo, 30 de outubro de 2011

O MENINO DE ANINGAS

Retratado no poema
Um garoto sonhador
O menino de Aningas
Muito cedo já voou
Tempo quente de fogueira
Sua terra fustigou
O jardim da sua casa
Folha seca devorou
Viajou pro fim do mundo
Numa onda de calor

Esgotada toda sorte
Abalada toda fé
Uma reza pra Francisco
Uma prece pra José
Promessa pro Pade Ciço
Pro Assis do Canindé
O sol ardendo de fogo
O rio, água no pé

Embarcou na tempestade
Levado de currupio
A estrada sinuosa
De poeira lhe cobriu
O vento nos seus cabelos
O medo fazendo frio
O cheiro de gasolina
Até hoje não saiu

O coração de menino
Batia descompensado
O pensamento no nada
O caminhão embalado
Espremido na mudança
Qual utensílio jogado
A Mulher sempre calada
Com seu vestido surrado

Adormeceu enfadado
Amontoado ao léu
Acordou no alarido
Na calçada do quartel
A rede de travesseiro
Telhado da cor do céu
Meninos extraviados
Perdidos no agranel

Inocência de criança
Arrancada na raiz
Sua sorte foi lançada
Sua vida por um triz
A lembrança do terreiro
A meninice feliz
Até hoje inda se pega
Ruminando cicatriz

Era o trem do pesadelo
Sem rumo sem direção
Sua sina que rodava
No pneu do caminhão
Uma nuvem de poeira
No lugar do coração
Era tudo de fumaça
Era o trem da ilusão

Viu o gume do machado
Viu a cobra se queimar
Viu a casa pegar fogo
Sem água de apagar
Os meninos com sarampo
As meninas a rezar
O homem fazendo planos
A mulher a costurar

A Mulher amargurada
Não aprendera chorar
Entupida de queixumes
Peito seco de rezar
Olhos cinza de tristeza
Na porteira de voltar
Centopéia de meninos
Mergulhados no azar

O escurinho da casa
Foi vitimado de praga
Menina por um fiapo
Lá se foi a gota d’água
Não nascera retirante
Não carecia de saga
Arrebatou suas crias
Esborrotada de mágoa

A Mulher de tão serena
Não cultuava lamento
Hoje nos olha de cima
Anda solta pelo vento
Aparece vez em quando
Nos olhos do seu rebento
Mudou-se da nossa casa
Pra morar no pensamento

Sugamos seu peito largo
A coragem de fartura
Sua saia de abrigo
O silêncio de ternura
Centopéia vive hoje
Sem emenda sem rasura
Calafetados que somos
Imunes a rachadura
Fomos trancados por dentro
E Ela é a fechadura!!!

sábado, 15 de outubro de 2011

ANTONIO TOMAZ


Era um homem com escudo
Com estrela no chapéu
Patente de Coronel
Decorado de metais
Me pôs no bolso detrás
Me levou pra sua casa
Me deu bico, me deu asa
Me soltou na ventania
Mas o vento que batia
Não batia como vento
Era seu ensinamento
Me preparando pra vida
Na aula de Ordem Unida
Emprego Policial
Minha formação moral
Foi sendo constituída
Essa figura querida
De caráter luminoso
Me fez um homem ditoso
A lhe dever a metade
Da mão que fiz amizade
Do bolso que fiz abrigo
Meu compadre, meu amigo
Meu tio, meu Coronel
A lembrança do quartel
Me chega doer o peito
Meu coração no estreito
Te agradece por tudo!!!

domingo, 2 de outubro de 2011

HOMENAGEM AO IDOSO


Idoso já foi menino
Traquino como ele só
Roubava doce da vó
Sumia na capoeira
Chegava segunda feira
Pra amolar a enxada
A camisa empoeirada
A cara desenxavida
Já tragava uma bebida
Nas noites de cantoria
O cheiro da companhia
Impregnado na mente
Idoso já foi valente
Não respeitava cancela
Já pulou muita janela
Fugindo das armadilhas
Já decorou as cartilhas
Pelas escolas do mundo
É sentimento profundo
É água de corredeira
É o trem da vida inteira
Se despedindo do trilho
É sonho de andarilho
No dia do lava-pé
É vazante da maré
Cansada de navegar
Um dia eu chego lá
Se o tempo for meu amigo
Se não mereço castigo
Quero a velhice comigo
A me fazer cafuné!!!!