terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

VIDA DE PEDRA

Pedra miúda tinhosa
Fui pedra já de menino
Carregada de caçamba
Despejada no caminho
Arrancada do terreiro
Sem tempo de criar limo
Feito pedra de rebolo
Rolando sobre o destino
II
Deixei o alto de pedras
Pra bater em retirada
Uma banda ficou presa
A outra foi arrancada
No meu terreiro de pedras
Minh’alma ficou guardada
Metade de mim é pedra
Metade leva pedrada
III
Rolei pra cima e pra baixo
Rolei pra lá e pra cá
Rolei no frio da praia
Rolei pro frio passar
Rolei nos pés da capina
Rolei no sol a queimar
Rolei na lama da chuva
Rolei no jogo de bar
IV
Joguei pedra na guerrilha
Fui pedra de atirar
Me cobri de carrapichos
No serviço militar
Tive as unhas encravadas
Nas botinas de marchar
Acordei na enxurrada
Com o rio a me levar
V
Já me fiz em pedregulhos
Já me vi a soluçar
Esbarrei em muitas pedras
Só mesmo por esbarrar
Algumas me cativaram
Me pediram pra ficar
Como pedra não escuta
Não me pus a escutar
VI
Gravei o rumo do vento
Na certeza de voltar
Fiz o mapa do caminho
Costurei no patuá
Quem me viu desmilinguido
Não perde por esperar
Levo pedras de presente
Muita história pra contar
O terreiro me espera
Lá eu quero vadiar!!!