terça-feira, 27 de maio de 2014

A PELEJA DOS IRMÃOS


PELEJA 

Não sei se tenho cacife
Para tamanho insulto
Pois diante do cacique
Eu sou apenas um vulto
Mas venho desafiar
O meu irmão centenário
Num duelo literário
Caso queira replicar 
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar

Responda-me se souber
E até pode pesquisar
Quem foi o filho de Ester 
Que fim levou Barrabás
Quem foi o mais rico rei
Citado nas escrituras
Quem saiu da sepultura
Depois de cristo chamar
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar

Fale-me sobre os malvados
Da época da inquisição 
O apelido dos soldados
Que mataram Lampião
Quem entregou o bastão
Para dom Pedro II
Por que João Paulo II
Não se deixou abalar
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar

Fale-me quem resgatou 
As cinzas do catarismo
O que a gestapo ganhou
Com todo seu terrorismo
Quantas vidas tinha Hitler
E se morreu de verdade
Ou se sua vaidade
Inda vive a nos matar
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar

Responda sem usar cola
A onde reside a paz
Quantos lados tem a bola
E também me diga quais
Diga-me quem foi Graham Bell
Quem inventou a verdade
O filho da majestade
Que nome a ele se dá
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar
 

Por que é que na política
Tem tanta marionete
E por que quem mais critica
É quem menos se compromete
Qual é a maior virtude
Que a mulher deve ter
Me fale sobre o poder
Que ela traz no olhar
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar

Fale-me de um personagem
Presente nas nossas vidas
De rústica embalagem
Mas de essência nutrida
Quem é esse professor
Que sabe tudo da terra 
Que sua semente enterra
Pra nossa fome matar
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar

Vou ficando por aqui
Sem pose, sem protocolo
Toma teu abacaxi
Dorme com ele no colo
Deixe os neurônios despertos
Enquanto eu me arregalo
E se acaso descascá-lo
Do suco eu quero tomar 
Se você sabe, me fale
Mas se não sabe, se cale
Que eu paro de perguntar.

Desafio Orestes Albuquerque
 
 
RESPOSTA DA PELEJA
 
Replico pequeno insulto
Que mais parece um algueiro
Repilo pequeno vulto
Que nem saiu dos cueiro
Deu de me desafiar 
Com pergunta de menino
Esse frangote franzino
Não sustenta caçuá
Começa aqui a peleja
Que o Senhor te proteja
Do vício de gaguejar

Pelos meus conhecimentos
Pelo que tenho escutado
Ester não teve rebentos
Pra seguir o seu reinado
Barrabás desaparece
No meio da confusão
Rei dos reis foi Salomão
O maior que se conhece
Depois de ser enterrado
Lázaro foi ressuscitado
Debaixo de muita prece

Inquisidores hereges
Senhores da malvadeza
Um câncer que permanece
Nas paredes da igreja
Até João Paulo II
Confessou envergonhado
Falemos noutro reinado
Do outro lado do mundo
Aqui D. Pedro I
Abdicou ao herdeiro
Seu filho Pedro II

Os “macacos” da volante
Que mataram Lampião
Caçada aos protestantes
Catarismo no sertão
Movimentos esmagados
Sem pena nem piedade
A gestapo da maldade
Da ira do cão malvado
Adolf Hitler tirano
Pegava um milhão de anos
Não tivesse se matado

Na casa dos namorados
A paz me disse que mora
A bola tem dois lados
Um de dentro e um de fora
Quem inventou a verdade
Não tinha tanta certeza
Tem o nome de Alteza
O filho da Majestade
O invento de Grahm Bell
Reside na Embratel
E outras localidades

Marionete de fato
É quem não tem compromisso
Só se põe a candidato
Quem não gosta de serviço
O poder da sedução
Que mata e aprisiona
Deixa o caboco na lona
Parece constipação
A virtude que ela tem
Eu não conto pra ninguém
Ta dentro do coração

Este homem que semeia
Semente no nosso chão
Que fornece nossa ceia
Com toda dedicação
Me lembrou uma pessoa
De nome Zeca Muniz
Que só estava feliz
Quando dava chuva boa
Merece todo respeito
Agricultor tem direito
De receber a coroa

Espero ter respondido
Satisfeito sua meta
Podia ter resolvido
Mas pedi pra minha neta
Com esta breve resposta
A peleja se completa
Quando for me perguntar
Pergunte pra me calar
Já que você é poeta

Sua rima é muito rica
Me deixou encabulado
Zeca Muniz lá de cima
Ta te mandando recado
Quero fazer a peleja
Com verso simplificado
Quando for me perguntar
Me bote pra gaguejar
Não seja tão acanhado

Quero que você me diga
“Cinco vez incarriado”
Desculpe meu mano veio
Não dormi apavorado
Eu tava era “prosiano”
Já estou todo borrado
Quero que você me diga
Se cabeça de lombriga
É vista de qualquer lado

Imagino uma peleja
Onde eu possa perguntar
Por que a noite se manda
Na hora do clarear
Me diga se no papoco
Inda tem o papocar
Quero que você me diga
Se mordida de formiga
Respeita tamanduá

Me diga com quantas brigas
Se faz uma confusão
Quem fez o dado quadrado
E sua numeração
O primeiro empregado
A primeira oração
Veja aí no almanaque
Quem botou o tic-tac
Pra bater no coração

Me diga que água é essa
Que escorre da serpentina
O que estava escrito
No diário da menina
Se eu usava topete
No tempo da brilhantina
Quando for me responder
Não esqueça de dizer
“O cheiroso das meninas”

Eu vivo de fazer verso
Principalmente rimado
Confesso ter me sentido
Bastante lisonjeado
Ao receber o convite
Do meu irmão adorado
E quando me responder
Não esqueça de dizer
Do meu retrato guardado!
 


TRÉPLICA REPLICANTE

Confesso que apetecia
Respostas mais consistentes
Mas sua modesta poesia
Da nem pro buraco do dente
Traga mais filosofia 
Quando for me responder
Pois não vejo em você
Um possível oponente
Se prometer melhorar
Deixo você disputar
Uma vaga de suplente

Vaca preta boi pintado
É do tempo das antigas
Tamanduá é respeitado 
No universo das formigas
Me diga três vezes rápido
Toco cru pegando fogo
E pra esquentar o jogo
Não tem cabeça a lombriga
Pois se cabeça tivesse
Não suportava o estresse
De morar na tua barriga

Essa coisa de papoco
Me deixou meio intrigado
Eu juro que entendo pouco
Desse seu palavreado
Não sei se mereces troco
Mas uma coisa eu confesso 
No pipoco dos meus versos
És tu quem sai papocado 
Não estou pra brincadeira
Se for pra falar besteira
É melhor ficar calado

A água da serpentina
É extraída do ar
É tão pura e cristalina
Que dá até pra tomar
O diário da menina 
Tem segredos que é só dela
E vai ficar com seqüela
Quem dele se aproximar
Agora bem mais moderno
Ao invés de um caderno
É uma tela de tocar

O dado só é quadrado
Pra dar o numero preciso
Vinte e um é pontuado
A Índia é seu paraíso
Acertar é complicado
Tu sabes bem como é
Pois na banca do Paté
Tu cansou de ficar liso
E a noite se mandava
E quando o dia raiava
Tu inda estava indeciso

Não consta em meu dossiê 
Do primeiro empregado
Mas penso que foi você
Por seu estágio avançado
Pois vieram me dizer
Que passou trezentos anos
Apenas estagiando
Só depois foi contratado
A oração começou
Logo após Enos nascer
Assim Genesis vem dizer
Nos seus escritos sagrados

Uma briga somente
Já é uma confusão
O sopro do onipotente
Fez pulsar o coração
Falando sinceramente
Do seu topete eu não sei
O seu retrato eu guardei
Mas não foi por devoção
Também não foi por carinho
Foi pra espantar passarinhos
No meio da plantação

Lisonjeado estou eu
Por ser irmão de quem sou
Zeca Muniz escreveu
Que tu és um professor 
O nosso pai não morreu
Para o mundo literário
Nos emprestou o cenário
E um pouco do brilho seu 
Esteja onde estiver
Ta aplaudindo de pé
As fagulhas que acendeu



PELEJANDO

Meu mano, querido mano
Continuando a peleja
Vou fazer simplificado 
Como café na bandeja
Depois da sua resposta
Vamos brindar com cerveja
Me fale de um combustível
Que é insubstituível
Quando a jangada veleja

Vou lhe fazer uma pergunta
Que nunca fiz a ninguém 
Dúzia e meia de cangalhas
Quantos cabeçotes tem
E aproveitando o embalo
Quero que diga também
Se o fogo do salgado
Ainda assusta alguém
Se o assovio do sundário
Inda é no mesmo horário
Ou já se foi pro alem 

Me diga se nutricionista
Se alimenta como orienta
Por quê que o papagaio
Fala, mais não comenta
Quem injetou capsaicinóide
No interior da pimenta
Responda para o povo
Se a gema do ovo
É feto ou é placenta

Responda com segurança
Sem truque, sem arte-manha 
Se o fruto do cajueiro
É caju ou é castanha
Por quê que a pedra é furada
E o autor da façanha
Se antes de ser Jeri
Era serrote ou montanha 
Qual a sua opinião
Sobre a privatização
Da nossa praia risonha

Por que, que onça pintada
Não come carne vermelha
Como fica a humanidade
Com a extinção das abelhas 
E se a lei da palmada
Merece puxão de orelha
Por que é que o pastor
Tece o seu cobertor 
Com a pele das ovelhas

Me responda se a fé
É irmã da esperança
E se o nosso café
Nos representa na França
De onde veio a família
Dos Orleans de Bragança
Me responda sem desdobra
Quanto é que você cobra
Pra assustar uma criança? rsrsrs



RESPOSTO

Resposto seus pobres versos
Mais fracos que chá de “bila”
A jangada só navega
Se o vento lhe ventila
Sua bebida se presta
Para moças de família
Declino do seu convite
Pois só abro o apetite
Numa dose de tequila

São trinta e seis cabeçotes
Com dois em cada cangalha
Um atrás e um na frente
aonde o ovo chacoalha
O velho fogo da ilha
Era só fogo de palha
Não quero ver você triste
Mas sudário só existe
No manchado da toalha

Só nutre quem é nutrido
Deixe a menina comer
O papagaio comenta
Sobre tudo que ele vê
Os alcalóides picantes
To mandando pra você
A gema que alimenta
Nem é feto nem placenta
É parte do “dicumê”

O caju não se fecunda
É tira-gosto de pinga
Quem fez o furo na pedra
Não morava na zaninga
Procure lá no Serrote
Quem foi esse baitinga
Agora vem um esperto
Diz que tava “no aberto”
Vai sobrar só a catinga

Pintura não come carne
Já que a onça é pintada
As plantações sem abelhas
Ficam esterilizadas
Bato palmas para a lei
Que inventou a palmada
Pastor é PhD
No modo de “recolher”
Da classe necessitada

A fé sem a esperança
É torno sem o torneiro
Nosso crioulo é famoso
Bebido no mundo inteiro
Os Orleans e Bragança
Vieram do estrangeiro
São da família real
Do reino de Portugal
Invasores pioneiros

Uma criança assustada
Foi o que me pareceu
Um menino acanhado
Que o pirulito perdeu
Se for pra morrer de medo
A peleja pereceu
Só falta fazer beicinho
Dizer chorando baixinho
Eu juro que não fui eu

Não vou perguntar agora
Pra não te ver constrangido
Um rapaz de meia idade
Pode ficar deprimido
Melhor gastar com cerveja
Que gastar com comprimido
Me bote na saia justa
Vê se um dia me assusta
Ou me põe aborrecido!
 



PERGUNTADOR
 
Minhas perguntas perguntam
Depois de ter respondido
Embora neste momento
Lhe veja um pouco abatido
Sua peleja me chama
Já me deixou envolvido
Pego na velha prancheta
O papel e a caneta
E o verso ta exprimido
 
Pra onde vai o amor
Quando o romance acaba
Onde está o jabuti
No pé de jabuticaba
Quanto tijolo te sobra
Depois que a casa desaba
Diga numa rima só
Se sua escanxavó
Subia na piaçaba
 
Quem foi que inventou a dor
E o primeiro comprimido
Quem notou a diferença
Da orelha pro ouvido
No que o vendo esbarra
Quando muda de sentido
Se a morte já morreu
O dia que faleceu
E a cor do seu vestido
 
Quem fez a primeira porta
E o primeiro cadeado
Qual o primeiro ladrão
E o primeiro delegado
Diga o que faz a balança
Pender para um dos lados
Me diga se carrapato
Finca dente no sapato
Pra se ver alimentado
 
Quem pintou o arco-íris
Que tinha lápis de cor
Como veio o alfabeto
E o primeiro professor
Por que a pobre galinha
Que já se cobre de dor
E não se queixa de mágoa
Por que tem que beber água
Se não tem um mijador
 
Me diga por derradeiro
Quais são as forças do mal
Quem salgou os oceanos
Donde tirou tanto sal
Se vierem prostitutas
Na jangada de Cabral
Por que a constância morre
Enquanto eu fico de porre
Terminado o carnaval


RESPOSTADOR
Minhas respostas respondem
Enquanto a peleja esquenta
Por que ao invés de açúcar
Mamãe passou foi pimenta
Diante do meu teclado
Prancheta se arrebenta
Quando for me perguntar
É melhor se preparar
Pois a resposta é marrenta

O amor é canibal
E só de amor se alimenta
O jabuti ta no nome
Desta arvore opulenta 
Os tijolos ficam todos
Não falta e nem acrescenta
Sobre minha escaxavó
Pergunte pra sua vó
Quem sabe, ela te orienta!

A dor não foi inventada
E dela ninguém se isenta 
A morte não é punida
Pela dor que representa
Quem vê a cor do vestido
Certamente não comenta
Caxete era comprimido
Mãozada no pé duvido 
Muda o rumo da venta 

Theodoros de Samos
O cadeado inventa
Trancando bem sua porta
Caim não lhe atormenta
A gravidade injusta
A balança movimenta 
O delegado e o carrapato
Usufruem do mesmo prato
É o sangue que os sustenta

As cores do arco-íres
É o sol quem pigmenta
Os primeiros professores
Que a historia comenta
Foram, o alfa e o Beto
Filhos da mesma placenta
Sem água, a esposa do galo
Ressecaria o gargalo
E morreria sedenta 

A força do mal é forjada 
Nas mentes mais fraudulentas 
É com o movimento das águas
Que o sal se desfragmenta
Cabral não trouxe mulheres
Mas até hoje lamenta
Se a constância vai mal
Num porre de carnaval
Outro porre não agüenta.

Só não fiz mais rima com “enta”
Pra não parecer abusado
Pois tenho mais de noventa
Palavras com este rimado
E que na próxima peleja
Mais apto você esteja
Pra não ficar desolado
 
 

 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

PÉ QUEBRADO CINCO OU SEIS

 
Ninguém volta sem ter ido
Ninguém fica sem querer
Quem vai e volta sabido
Quem ficou não vai saber
 
Sou caminho percorrido
Sou estrada por fazer
Sou parte do ocorrido
Sou prestes a ocorrer
 
Sou marca no escondido
Sou alguém pra esquecer
Sou amor adormecido
Sou jura de comover

Sou artigo consumido
Sou a fome de comer
Sou um velho conhecido
Sou antes de conhecer
 
Sou o corte no tecido
Sou a linha de coser
Sou pai do acontecido
Sou fácil de aprender
 
Sou casa de chão batido
Sou bonito pra chover
Sou menos favorecido
Sou a vez de receber
 
Sou o bocado comido
Sou boca de merecer
Sou guarda-chuva sumido
Sou chuva de adoecer
 
Sou raro desconhecido
Sou fogo de acender
Missa de padre banido
Não basta pra me benzer
 
Eu que sonho atrevido
Eu que fico pra te ver
Eu que abro teu vestido
Eu que vou te convencer

Me peguei desprevenido
A ponto de prometer
Acordei agradecido
Prometi não sei o quê
 
 
 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

NULHER VALENTE

 
 




Menina pequena

Menina miúda

Tão cedo se muda

Pra fazer o lar

 

Pôs-se a trabalhar

Feito uma formiga

Cansou a barriga

De tanto gerar

 

Sem querer ficar

Presa no fogão

Uma ocupação

Era necessário

 

Não tinha salário

Nem força de homem

E onde muitos comem

Carece fartura

 

Caiu na costura

De noite e de dia

Com toda família

Costurada nela

 

Calcinha amarela

Bordados e rendas

Muitas encomendas

Sendo preparadas

 

Tantas madrugadas

Carregando pano

Entra ano sai ano

Na mesma toada

  

Tesoura amolada

Rangindo no pano

Maquinas costurando

Na mão das meninas

 

Bordados e linhas

Por cima da mesa

Toda miudeza

Agulhas e renda

 

Hora da merenda

Parava a costura

Mesa com fartura

Comia quem vinha

 

Foi a mãe Mundinha

De outras pessoas

Mundinha tão boa

Que tanto admiro

 

Criou muitos filhos

Como uma leoa

Virou a patroa

Da família inteira

 

Mundinha faceira

Na fotografia

Mundinha sorria

Na minha memória

 

Essa é a história

Da mulher guerreira

Mundinha Silveira

Exemplo de Mulher!!

terça-feira, 6 de maio de 2014

ONÇA PINTADA



Olhos da onça pintada
Me diga quem te pintou
Se foi o verde da mata
Se foi o teu caçador

Olhos de pedra safira
Banhados de turmalina
Esmeralda de pupila
Diamante de retina
 
Olhos claros de cascata
Que se derrama no rio
Livrai-os de catarata
Livrai-os de extravio!!