segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A PÉA DE FUMO















Já fui a folha mais bela

Das folhas do seu pomar

Era clara de brilhar

Um cheiro embriagador

Macia como uma flor

Um verdume de veludo

Como o tempo acaba tudo

Repare como fiquei

              II

Certo dia me pintei

Fizeram trança de mim

Fui parar no butiquim

Na boca de quem me queira

Negociada na feira

No mais miúdo varejo

A cada palmo me vejo

Cortada no canivete

               III

Mascada como chiclete

Na boca do caipora

Jogada de porta a fora

Depois do mel acabado

Sou pisada pelo gado

Nem a formiga me quer

Folha que solta do pé

Não sabe onde vai parar
 
             IV

Um dia vão me fumar

Me queimar devagarinho

Me esconder num cantinho

Como se eu fosse culpada

Noutro dia sou mascada

Cuspida na lata véa

Termino virando péa

Jogada pelo quintal

             V

Me larguei do bananal

Levada pelo morcego

Fui parar dentro dum rego

Que escorria do cano

Fui salva por um cigano

Que gostava de “pitá”

Terminei a fumaçar

No derradeiro consumo

             VI

Da bela folha de fumo

Restou a péa de mim

Resmungo meu triste fim

Nunca vi pior lugar

No dente de mastigar

Da boca do fazendeiro

Cuspida no seu terreiro

Pro rola-bosta brincar!!!

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