Já fui a folha mais bela
Das folhas do seu pomar
Era clara de brilhar
Um cheiro embriagador
Macia como uma flor
Um verdume de veludo
Como o tempo acaba tudo
Repare como fiquei
II
Certo dia me pintei
Fizeram trança de mim
Fui parar no butiquim
Na boca de quem me queira
Negociada na feira
No mais miúdo varejo
A cada palmo me vejo
Cortada no canivete
III
Mascada como chiclete
Na boca do caipora
Jogada de porta a fora
Depois do mel acabado
Sou pisada pelo gado
Nem a formiga me quer
Folha que solta do pé
Não sabe onde vai parar
IV
Um dia vão me fumar
Me queimar devagarinho
Me esconder num cantinho
Como se eu fosse culpada
Noutro dia sou mascada
Cuspida na lata véa
Termino virando péa
Jogada pelo quintal
V
Me larguei do bananal
Levada pelo morcego
Fui parar dentro dum rego
Que escorria do cano
Fui salva por um cigano
Que gostava de “pitá”
Terminei a fumaçar
No derradeiro consumo
VI
Da bela folha de fumo
Restou a péa de mim
Resmungo meu triste fim
Nunca vi pior lugar
No dente de mastigar
Da boca do fazendeiro
Cuspida no seu terreiro
Pro rola-bosta brincar!!!
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