terça-feira, 18 de março de 2014

FILHO DA MÃE



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nunca vi mamãe chorar
Nem de moça nem sinhá
Nem quando toda canaia
Se arranchou na sua saia
 
Nunca vi mamãe cansada
Choramingando por nada
Nem quando faltava ovo
No pirão daquele povo
 
Nunca vi mamãe caída
Tristonha desinxavida
Nem quando tudo ruía
Nos tempos de agonia
 
Nunca vi mamãe ruída
Capionga pela vida
Nem quando perdeu o filho
Rodando no catabilho
 
Nunca vi mamãe ausente
Por causa de tempo quente
Nem quando teve queimada
Beirando sua morada
 
Nunca vi mamãe parada
No mundo sem fazer nada
Só nas noites de domingo
Que fumava seu cachimbo
 
Nunca vi mamãe de choro
Nem no tempo de namoro
Só se foi quando pedia
Para ir na cantoria
 
Nunca vi mamãe na farra
Com a saia feito barra
Nem no tempo de donzela
Com vestido na canela
 
Nunca vi mamãe no frevo
Sobre isso não escrevo
Admito uma valsa
Engomando minha calça
 
Nunca vi mamãe a pé
Só se foi no Canindé
Ou então passando o rio
Com o fogo de pavio
 
Nunca vi mamãe na praia
Nem de tanga nem de saia
Só se foi na meninice
Coisa que nunca me disse
 
Nunca vi mamãe com frio
Nem na fonte nem no rio
Só se foi adolescente
Na vazante da enchente
 
Nunca vi mamãe rezar
Sem o Padre lhe cobrar
Só se for a ladainha
Com o terço da vizinha
 
Nunca vi mamãe aflita
Pela falta de marmita
A boia tava segura
Com farinha e rapadura
 
Nunca vi mamãe saída
Não fosse na despedida
Nem que fosse apaixonada
Pelo dono da boiada
 
Nunca vi mamãe no bar
Tendo louça pra lavar
Nem se fosse convidada
Pra cair na batucada
 
Nunca vi mamãe com medo
Nem de tarde nem de cedo
Só se for bicho valente
Pra ficar na sua frente
 
Nunca vi mamãe de briga
Com a faca na barriga
Só se fosse por um filho
Ter quebrado um pé de milho
 
Nunca vi mamãe solteira
Voltando da gafieira
Só se foi naquele dia
Que eu dormi na minha tia
 
Nunca vi mamãe subir
No jumento sem cair
Só se fosse num cabrito
Coisa que não acredito
  
Nunca vi mamãe na feira
Sem ter água na chaleira
Nem que fosse pendurado
Na barraca do fiado
 
Nunca vi mamãe largada
Tico-tico, separada
Só se foi no intervalo
Isso é coisa que não falo
 
Nunca vi mamãe na rua
Mais também não vi a tua
Só se foi muito escondido
Outra coisa que duvido
 
Nunca vi mamãe doente
Nem que fosse dor de dente
Só se foi barriga inchada
Da espiga mal-assada
 
Nunca vi mamãe em casa
Que não fosse feito brasa
Esquentando a titela
Na quentura da panela
 
Nunca vi mamãe ficar
Sem ter conta pra pagar
Só se foi no Mansueta
Que perdeu a caderneta
 
Nunca vi mamãe com sede
Com caneco na parede
Só se quebrou a muringa
No alpendre da Zaninga
 
Nunca vi mamãe na pia
Que não fosse todo dia
Só se foi no feriado
Foi comer no afilhado
 
Nunca vi mamãe de fogo
Nem no fumo nem no jogo
Só se foi num pic-nic
Que ela foi de Maverik
 
Nunca vi mamãe sambar
Tendo conta pra pagar
Só se foi comemorar
Nas regatas do Preá
 
Nunca vi mamãe com fé
No espirro do rapé
Preferia a chaminé
Do cachimbo de bazé
 
Nunca vi mamãe afoita
De mocinha pular moita
Nem pensar nesse pecado
Dou o verso por encerrado!!! 
 
 
 
 
 
 

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