Nunca
vi mamãe chorar
Nem
de moça nem sinhá
Nem
quando toda canaia
Se
arranchou na sua saia
Nunca
vi mamãe cansada
Choramingando
por nada
Nem
quando faltava ovo
No
pirão daquele povo
Nunca
vi mamãe caída
Tristonha
desinxavida
Nem
quando tudo ruía
Nos
tempos de agonia
Nunca
vi mamãe ruída
Capionga
pela vida
Nem
quando perdeu o filho
Rodando
no catabilho
Nunca
vi mamãe ausente
Por
causa de tempo quente
Nem
quando teve queimada
Beirando
sua morada
Nunca
vi mamãe parada
No
mundo sem fazer nada
Só
nas noites de domingo
Que
fumava seu cachimbo
Nunca
vi mamãe de choro
Nem
no tempo de namoro
Só
se foi quando pedia
Para
ir na cantoria
Nunca
vi mamãe na farra
Com
a saia feito barra
Nem
no tempo de donzela
Com
vestido na canela
Nunca
vi mamãe no frevo
Sobre
isso não escrevo
Admito
uma valsa
Engomando
minha calça
Nunca
vi mamãe a pé
Só
se foi no Canindé
Ou
então passando o rio
Com
o fogo de pavio
Nunca
vi mamãe na praia
Nem
de tanga nem de saia
Só
se foi na meninice
Coisa
que nunca me disse
Nunca
vi mamãe com frio
Nem
na fonte nem no rio
Só
se foi adolescente
Na
vazante da enchente
Nunca
vi mamãe rezar
Sem
o Padre lhe cobrar
Só
se for a ladainha
Com
o terço da vizinha
Nunca
vi mamãe aflita
Pela
falta de marmita
A
boia tava segura
Com
farinha e rapadura
Nunca
vi mamãe saída
Não
fosse na despedida
Nem
que fosse apaixonada
Pelo
dono da boiada
Nunca
vi mamãe no bar
Tendo
louça pra lavar
Nem
se fosse convidada
Pra
cair na batucada
Nunca
vi mamãe com medo
Nem de tarde nem de cedo
Só se for bicho valente
Pra ficar na sua frente
Pra ficar na sua frente
Nunca
vi mamãe de briga
Com
a faca na barriga
Só
se fosse por um filho
Ter
quebrado um pé de milho
Nunca
vi mamãe solteira
Voltando
da gafieira
Só
se foi naquele dia
Que
eu dormi na minha tia
Nunca
vi mamãe subir
No
jumento sem cair
Só
se fosse num cabrito
Coisa
que não acredito
Nunca
vi mamãe na feira
Sem
ter água na chaleira
Nem
que fosse pendurado
Na
barraca do fiado
Nunca
vi mamãe largada
Tico-tico,
separada
Só
se foi no intervalo
Isso
é coisa que não falo
Nunca
vi mamãe na rua
Mais
também não vi a tua
Só
se foi muito escondido
Outra
coisa que duvido
Nunca
vi mamãe doente
Nem
que fosse dor de dente
Só
se foi barriga inchada
Da
espiga mal-assada
Nunca
vi mamãe em casa
Que
não fosse feito brasa
Esquentando
a titela
Na
quentura da panela
Nunca
vi mamãe ficar
Sem
ter conta pra pagar
Só
se foi no Mansueta
Que
perdeu a caderneta
Nunca
vi mamãe com sede
Com
caneco na parede
Só
se quebrou a muringa
No
alpendre da Zaninga
Nunca
vi mamãe na pia
Que
não fosse todo dia
Só
se foi no feriado
Foi
comer no afilhado
Nunca
vi mamãe de fogo
Nem
no fumo nem no jogo
Só
se foi num pic-nic
Que
ela foi de Maverik
Nunca
vi mamãe sambar
Tendo
conta pra pagar
Só
se foi comemorar
Nas
regatas do Preá
Nunca
vi mamãe com fé
No
espirro do rapé
Preferia
a chaminé
Do
cachimbo de bazé
Nunca
vi mamãe afoita
De
mocinha pular moita
Nem
pensar nesse pecado
Dou
o verso por encerrado!!!
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