sábado, 21 de julho de 2012
A LENDA VAIDOSA
Diz a Lenda, que uma Lenda muito vaidosa, inconformada com o descaso do povo com sua Lenda, pois, vivendo à beira do esquecimento, resolveu certo dia abandonar sua Lenda e, numa atitude Lendária, criar uma Lenda que jamais fosse esquecida. A Lenda seria de outro planeta. Lenda de causar arrepio na mais Lendária das Lendas. Foi um reboliço Lendário. Todas as Lendas se revoltaram enciumadas; ora mais, o que deu nessa Lenda? Andou tendo pesadelos?
- Precisamos renovar as Lendas. Estamos todas envelhecidas e fora da mídia, disse a Lenda rebelde.
- Não se cria uma Lenda assim, aponta-lhe o dedo, uma Lenda autoritária.
- E você sabe como começa uma Lenda? Perguntou-lhe a Lenda que acabara de criar a Lenda;
- Nunca se sabe ao certo, Lenda é Lenda. Quando me
entendi por Lenda eu já era Lenda, retrucou a Lenda
mais conservadora. O Lendário museu ficou em polvorosa. Lendas que ha séculos não tiravam remela, já acordavam perguntando: o que foi, o que foi? Foi marcado então, diz a Lenda, um Lendário julgamento interrogatório, em desfavor da relicária Lenda. Todas as Lendas se reuniram no Lendário calabouço, com suas perucas de bobs e seus guarda-pós mofados. Foi uma catinga Lendária jamais vista ou sentida, até pela mais Lendária das Lendas.
A Lenda-Mor, já moribunda, então eleita pelo Concílio das Lendas, cheia de ácaros e demais parasitas, veio ter com a Lenda transgressora. Senhora Lenda, disse-lhe a Lenda-Mor, moribunda: de onde tirastes essa Lenda, que nem a mais Lendária das Lendas, no caso eu, se pôs a conhecer? Não existe qualquer registro da historia da tua Lenda. A Lenda subjugada então lhe respondeu: Toda Lenda nasce de uma mentira bem contada, não se sabe por quem. Pelo menos a minha, tem autoria!
A Lenda pagou caro pela rebeldia. Retornou para sua Lenda, condenada que foi a um século de mofo, um milênio de esquecimento e mais uma década de prestação de serviços à comunidade literária, espanando livros empoeirados no Museu das Lendas.
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