domingo, 29 de janeiro de 2012

FOGO AMIGO


“Quero te dizer
Velho Gurguri
Que o rio sem ti
Não tem alegria
A água que subia
Só pra te beijar
Agora vai passar
E não vai te ver!”


E logo eu, a te queimar no fim
Se já chorei por ti a todo pranto
Dono de ti, quem te adora tanto
Te ver em cinzas, fez cinza de mim
II
Te vi ali, a derreter em chamas
A escutar os versos que te fiz
Como a se arder, ardendo de feliz
Na labareda enquanto te derramas
III
O fogo amigo que te fez fogueira
Me doeu a noite, morna sem luar
Os olhos da Dona pôs-se a marejar
Olhos de menina, vida passageira
IV
Se te queimei foi pra te proteger
Do sol ardente que te consumia
Da chuva fina e da noite fria
Do abandono posto a me doer
V
Te li poema à luz de velas
Solenemente como ritual
Iluminados por um castiçal
Simbolicamente como sentinela
VI
Queimado, findo, ardendo de sede
Tua cinza leve se espalhou no vento
Como por encanto, coisa de momento
Invadiu a casa, beijou as paredes
VII
Do que te restou, joguei no rio
Tua cinza navega em liberdade
No meu peito és rio de saudade
Tomara não padeças calafrio!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

40 DIAS NO PARAÍSO

Tirei uns quarenta dias
Pra sumir na capoeira
Comecei a bebedeira
Logo no dia seguinte
Amigos pra mais de vinte
Contentes com a surpresa
Me buscou em Fortaleza
Um amigo de primeira
Provocamos tremedeira
Nas garrafas da cidade
É ruma de amizade
Que todo dia me chama
Pra pescaria na lama
No rio da Manuela
No açude, na pinguela
Na Barrinha, no Preá
Na Croa Grande do Mar
Na terra do Jenipapo
Ou no Buraco do Sapo
Na baixa do Zacaria
Na fogueira da Bibia
Ou na Lagoa dos Bode
O Bagre sempre que pode
Me leva pra Macajuba
Pensando que me derruba
Com meia dúzia de cana
Logo cedo é caravana
O telefone tocando
O povo me convidando
Vambora queimar o dente
Tomara que eu agüente
E o fígado não se queixe
Bora pro caldo de peixe
Na lagoa do Bobó
Pra depois tirar o pó
La no Alto da Colina
Ainda tem a menina
O beijo na madrugada
Os carinhos de carrada
Cuidados que nem mereço
A todos eu agradeço
Pelo gesto de grandeza
A ruma de gentileza
Que estragaram comigo
Me despeço comovido
Um abraço do amigo
Numa rede em Fortaleza!