Maria
não dá bom dia
Não
escuta quem apela
A
porta da casa dela
Tem
urtiga no mourão
É
onça na contra-mão
Cuspindo
brutalidade
Não
gosta de amizade
Repudia
gentileza
Mas
a sua “buniteza”
Entope
carroceria
II
Um
dia topei Maria
Com
topete de mulher
“Malmente
rastava os pé”
Como
quem tá com azia
Lhe
perguntei como ia
Só
podia ir a pé
Me
chamou de “caburé”
Na
maior antipatia
Minha
mãe já me dizia
Não
cutuca jacaré
III
Assim
é, Maria José
Doçura
de carrapicho
Arisca
que nem um bicho
Se
alguém se aproxima
Sua
mãe já lhe ensina
Os
“pirigo” da idade
Não
aceita caridade
Nem
recado nem bilhete
Finura
de alfinete
Opinião
de catita
IV
A
Maria era bonita
Um
defeito não se via
Mocinha
de sacristia
Só
da igreja pra casa
Reimosa
mais que a brasa
Que
nem bico de chaleira
Eu
levei na brincadeira
Sua
ira de menina
Metade
da minha sina
A
Maria carregava
V
Maria
se transformava
Bonita
que só o diacho
Fria
que nem um riacho
Nas
coisas do coração
Eu
lhe botava atenção
Todo
domingo na missa
Parecia
uma noviça
Uma
filha de Maria
Minhas
perna se tremia
Quando
espiava pra ela
VI
Eu,
comia na tigela
Ela,
da roça também
Eu,
não tinha muitos bem
Duas
cabeça de gado
Tinha
cavalo celado
Com
arreio de metal
Tinha
mais dois animal
Rematado
no leilão
Um
carneiro valentão
E
uma porca maiada
VII
Maria
era desejada
Por
todos da redondeza
Parecia
uma princesa
Nas
quatro festa do ano
E
José fazendo plano
Sonhando
com sua mão
Uma
rosa em botão
Abrindo
pro infinito
Seu
brinquedo favorito
Era
o banho de lagoa
VIII
Sabemos
que tempo voa
Na
vida de todo mundo
Maria
por um segundo
Parece
desabrochar
Já
retém o seu olhar
Quando
é observada
Já
não nada descuidada
Como
constante fazia
Como
minha mãe dizia
Já
tava de fogo aceso
IX
Maria
já dá o peso
Já
suspira na janela
Preciso
falar com ela
Sobre
as minha intenção
Logo
vem um gavião
Deitar
olho na menina
Mamãe
diz que nóis combina
Que
dá pra fazer um par
Mais
pra poder combinar
Ela
precisa saber
X
Esqueceu
os afazer
Roçado
não via Zé
Apiruando
a Mazé
Aonde
a menina ia
A
paixão lhe consumia
Já
não ia trabalhar
A
roça por capinar
Amanheça
e anoiteça
Não
tirava da cabeça
A
imagem de Maria
XI
Maria
bem que sabia
Que
andava perseguida
Toda
vinda toda ida
Dava
com olho de Zé
Essas
coisa de mulher
Que
vê e faz que não viu
Mas
no fundo já sentiu
O
coração palpitar
A
noite deu de sonhar
Com
referida pessoa
XII
Ele
mora na Coroa
Ela
mora no Vintém
Meio
dia ela vem
Na
garupa do seu pai
É
a hora quêle vai
Do
roçado pra lagoa
É
sua hora mais boa
Quando
se cruza com ela
Só
falta cair da cela
Quando
mira seu olhar
XIII
Fuxico
foram contar
De
uma briga passada
Uma
cerca derrubada
Desavença
de vizinho
Por
conta dum bacurinho
Foi
parar no Promotor
Essa
briga separou
Os
Pinheiro dos Machado
Ele
foi prejudicado
Por
coisa que nunca fez
XIV
Foi
briga pra mais de mês
O
pai dele e o pai dela
Foi
arame foi cancela
Derrubados
pelo chão
Uma
grande confusão
Briga
pra vuar os caco
Tocaram
fogo em barraco
Emboscaram
de tocaia
Foi
um rabo de arraia
Não
foi coisa de se vê
XV
Zé
Maria sem saber
Do
bendito bafafá
Precisa
desintrigar
O
pai dela do seu pai
No
mesmo dia ele vai
Na
casa do seu cunhado
Que
é alfabetizado
“Pra
mode” lhe ajudar
Pra
poder se desatar
O
grande nó que se deu
XVI
Seu
cunhado escreveu
Uma
carta de perdão
Pedido
de remissão
Pra
casa do ofendido
Depois
de escurecido
Enfiou
pela janela
Caiu
bem no quarto dela
Que
achou quando “barria”
Ela
também não sabia
Da
intriga do seu pai
XVII
Dia
vem e dia vai
Um
dia veio resposta
Também
debaixo da porta
Seu
pai o destinatário
Dizia
o adversário
Não
ter mágoa nem rancor
Seu
pai se admirou
Do
chamego do vizinho
Mas
foi aberto o caminho
Foi
derrubado o acêro
XVIII
Zé
que era dos Pinheiro
E
Maria dos Machado
Agora
desintrigado
Bebia
no mesmo pote
A
Maria nos capote
O
Zé tirando crueira
Dá
com ela na peneira
Com
as mão a se roçar
Pra
questão cicatrizar
“Ajuntaro”
as farinhada
XIX
O
Zé dava uma boiada
Pela
menina Maria
Ele
já não conseguia
Ficar
sem os olhos dela
Para
ele e para ela
Era
coisa decidida
Só
havia uma saída
Fizeram
combinação
Comer
do mesmo pirão
Pro
resto da suas vida
XX
O
Zé, com a repartida
Que
lhe tocou da farinha
Juntou
a porca que tinha
Pras
festa de fim de ano
Comprou
um corte de pano
E
mais um brinco de ouro
Uma
tamanca de couro
De
presente pra menina
Carregou
na brilhantina
Que
escorria na testa
XXI
Chegou
o dia da festa
Foram
todos pra novena
Convidou
sua pequena
Pra
tomar um aluá
Pois
tinha que lhe falar
Daquele
corte de pano
Foi
aí seu desengano
Uma
facada no peito
Maria
com muito jeito
Foi
dizendo mesmo assim:
XXII
Ô
Zé, se fosse por mim
Até
casar eu queria
Eu
lhe tenho simpatia
Só
não quero caritó
Mais
agora deu um nó
Nas
combinança da gente
Diz
que tem um pretendente
Lá
das banda de Sobral
Dono
de carnaubal
Que
me viu pelo retrato
XXIII
Maria
não faça trato
Nem
pela barba do santo
Nem
pelo divino manto
Do
Divino Pai Eterno
Prefiro
ir pro inferno
Andar
sem rumo no mundo
Me
jogar num poço fundo
Deixar
minha alma presa
Do
que viver de tristeza
De
coração trespassado
XXIV
XXIV
No
domingo retrasado
O
meu pai “raiô” comigo
Mãe
me botou de castigo
Diz
que tô muito saída
Disse
que fui prometida
Pra
quando for de maior
Enquanto
for de menor
A
gente vai namorando
Inda
falta quatro ano
Pra
mode vim me buscar
XXV
Tomara
o velho gagá
Morra
bem antes do dia
Que
dê uma frente fria
Lá
onde esse traste mora
Praga
que tudo devora
Mate
seu carnaubal
Que
tudo vire mingau
Na
vida do papangu
E
uma praga de urubu
Devore
sua carniça
XXVI
Maria
sem dá notícia
Se
mandou pra Capital
Talvez
passou em Sobral
Na
companhia dos pais
O
desgosto foi de mais
No
peito de Zé Maria
Pois
não veio a frente fria
Sua
praga não pegou
Inda
viu o seu amor
Saindo
por entre os dedo
XXVII
José
morrendo de medo
Quase
doido de ciúme
Parecia
um vagalume
Não
dormia nem comia
Matutava
noite e dia
Na
espera do seu bem
Será
que Maria vem
Ou
fica pra lá de vez?
Não,
depois do que ela fez
Lá
na pedra do rochedo
XXVIII
Já
voltaram com segredo
Maria
já me evita
Até
voltou mais bonita
Com
o cabelo frisado
Os
peito mais volumado
Parece
fruta madura
Por
fora uma formosura
Por
dentro já não garanto
Da
conta do meu encanto
Quebrou
cinquenta por cento
XXIX
Uma
ira de momento
Feriu
o seu coração
José
perdeu a razão
Abalado
de ciúme
Maria
não sai a lume
A
espera lhe castiga
Zé
não passa da urtiga
Que
habita no mourão
Nunca
foi no seu portão
Quanto
mais um casamento
XXX
O
tempo passava lento
Pra
agonia de Zé
Um
dia viu um chofer
Andar
perdido no mato
Num
carro quatro por quatro
Procurando
a casa dela
Escorou-se
na cancela
Pra
não cair fulminado
Era
coisa de noivado
Voava
seu sabiá
XXXI
Só
sei que pra encurtar
O
velho desceu do carro
Com
escarro de catarro
E
cachimbo fedorento
Maria
por um momento
Achou
que fosse Fiscal
Do
Imposto Federal
Querendo
tirar dinheiro
Largou
o véi no terreiro
Se
trancou na camarinha
XXXII
Maria
inda não tinha
Conhecido
o pretendente
Quando
viu aquela gente
Não
desconfiou de nada
Quando
foi apresentada
Ingúiô
no pensamento
Esse
sujeito nojento
Não
passa da minha sala
Quanto
mais fazer a mala
Pra
viver de amargura
XXXIII
Seu
pai lhe fez uma jura
Lhe
fazer prisioneira
Castigo
pra vida inteira
Da
vergonha que passou
A
Maria nem ligou
Aceitou
resignada
Mil
vezes ser castigada
A
viver desiludida
Desencantada
da vida
Contando
carnaubeira
XXXIV
Um
amor pra vida inteira
Era
o sonho de José
Sua
reza, sua fé
Nunca
foram abalada
Sua
mãe, desintrigada
Visitou
Dona Zefina
Especulou
da menina
De
quanto tempo não via
Voltou
que não se cabia
Trazendo
boa notícia
XXXV
A
Maria com malícia
Usando
o sexto sentido
Mandou
bilhete escondido
Endereçado
pra Zé:
No
dia de São José
Me
faça uma serenata
E
me leve pra Regata
Lá
na Praia do Preá
Deixe
a onda me levar
Pra
depois me socorrer
XXXVI
Zé
Maria ao receber
Açucarado
bilhete
Contratou
o clarinête
Do
Tião da Boemia
Da
meia noite pro dia
Roubaria
sua amada
A
intriga tava armada
Isso
não acaba bem
Era
o povo do Vintém
Contra
o povo da Corôa
XXXVII
Numa
noite de garoa
A
serenata comeu
Sua
mãe reconheceu
No
buraco da janela
O
ladrão da filha dela
No
pé de jabuticaba
A
janela destrancada
A
filha num pé e noutro
Depois
do cabresto solto
É
água de morro abaixo
XXXVIII
O
velho falando baixo
Chamou
a sua mulher
Mandou
fazer um café
Servir
umas cajuína
Mandou
chamar a menina
Abriu
a porta da sala
Mandou
fazer sua mala
E
abraçou a Maria
Este
é o último dia
Do
castigo que lhe dei
XXXIX
Ali,
na forma da lei
Lhe
entregou a Maria
O
José não se cabia
De
tanta felicidade
Agradeceu
a bondade
Do
Sr. Bento Machado
No
seu cavalo celado
Subiu
Maria nos braço
Depois
partiu pro abraço
Pra
festa de São José
XL
A
enchente da maré
Com
toda força do mundo
Levou
Maria pro fundo
Sem
dá tempo de gritar
José
não sabe nadar
Pra
mode lhe socorrer
Zé
já tava pra morrer
Quando
“vêi” uma jangada
Com
Maria engasgada
Da
água que engoliu
XLI
Maria
com muito frio
Tremia
desconsolada
Queria
ser resgatada
Como
conta no cordel
Nos
braços do menestrel
O
seu amor, o seu Rei
Não
assim, no aperrei
De
carona na jangada
A
barriga cheia dágua
Em
plena lua de mel
XLII
Quase
fui parar no céu
Disse
Maria a José
Veja
as coisa como é
No
primeiro passear
Vi
a onda me levar
Como
leva uma semente
Se
não fosse aquela gente
Voltando
da pescaria
A
onda me devolvia
Toda
comida de peixe
XLIII
Nunca
mais você me deixe
Passar
de “água no pé”
Milagre
de São José
Lhe
salvou da viuvez
Todo
ano, neste mês
Vou
pagar uma promessa
De
trazer uma remessa
De
fulô de manacá
Jogar
nas onda do mar
Em
forma de oferenda
XLIV
A
Maria é minha prenda
Eu
sô José, dos Pinheiro
Passei
o cordel inteiro
Fingindo
que não sabia
A
sua caligrafia
Na
pedra do ribeirão
Desenho
de coração
O
nome dela e o meu
Depois
ainda escreveu
Meu
coração machucado
XLV
Sou
Maria, dos Machado
Não
sô de derretimento
Ali
naquele momento
Estava
fragilizada
A
janela entramelada
Pois
estava de castigo
Tu,
combinava comigo
Tu
me fazia as vontade
Era
a minha liberdade
O
adeus à palmatória
XLVI
Aqui
termina a história
De
Maria e de José
Ela
de pedra na mão
Ele
de bicho no pé
O
casamento se deu
Na
festa de São José
José
amola a enxada
Maria
faz o café
Só
sei que ainda resmunga
Na
hora dos cafuné!!!