Nasceu numa casa pobre
Família mais pobre ainda
Uma menina tão linda
Que fez inveja pro sol
Tinha um brilho de farol
Com olhos da cor do mar
Nem que eu fosse desenhar
No mundo nunca se viu
Seu cabelo era de fio
Mais tudo fio de ouro
Luzia como tesouro
Doía de tão dourado
No dia do batizado
O Padre fez um apelo
Não molhou o seu cabelo
Chamou sua mãe do lado
É um momento sagrado
Rezemos em oração
Vamos pedir proteção
Pra essa pobre menina
É um tesouro de mina
Pensou o Padre consigo
Vou arrumar um abrigo
Na Casa Paroquial
Logo adotou o casal
Com toda dedicação
Também não tirava a mão
Da cabeça da menina
Cuidado com lamparina
Cuidado com fogareiro
Bote olho no cabelo
Dia e noite, noite e dia
Toda noite o Padre ia
Visitar sua Divina
Era o nome da menina
Por ele mesmo botado
Dum jeito dissimulado
O Padre com muito zelo
Arrancava um cabelo
E guardava na batina
O cabelo da menina
Era mesmo encantado
Pra cada fio arrancado
Nascia dois no lugar
Na hora de arrancar
Fazia o sinal da Cruz
Prometia pra Jesus
Um cabelo a cada dez
Quero por seu através
Com muito fio arrancado
Botar um novo telhado
Fazer a troca do sino
Pediu ao frei capuchino
Pintou de ouro seu manto
Pintou as unhas do santo
Fez ouro sua patena
Nos festejos da novena
Não passava sacolinha
O dízimo agora vinha
Dum tesouro arrancado
Falou que tinha sonhado
Uma botija enterrada
Bem debaixo da calçada
Da Casa Paroquial
Sonhou com Frei Nicolau
Cavando de madrugada
Quando foi na alvorada
A botija tava lá
Um dia pra não lembrar
A Divina escapuliu
Ninguém sabe ninguém viu
O seu cabelo de ouro
O Padre caiu no choro
Foi parar no Batalhão
Um grande terço na mão
As contas maior ainda
E sua menina linda
Com seu cabelo de ouro
Se transformou num besouro
E sumiu na ventania
Diz a lenda que um dia
Na hora dum batizado
Veio um besouro dourado
Mergulhou dentro da pia
O Padre, logo sabia
Quando viu sua menina
O besouro era Divina
Querendo se batizar
E desse dia pra cá
Abandonou a batina!!!