domingo, 14 de agosto de 2016

MEU PAI VALENTE





 

Meu pai um dia
Foi comprar um aguardente
Um espelho quatro pente
Pras minina pentiar
 
E deu de cara
Com um sargento impertinente
Que mandou sair da frente
Num ta vendo ele passar
 
Chegou em casa
Com o sol ainda quente
Lhe faltava quatro dente
Oito dia sem mascar
 
Mamãe lhe disse
Onde foi o acidente
Se morrera muita gente
Quanto tinha que rezar
 
Nada de grave
Discutiu com um agente
Se atracaram brevemente
Não queria se sujar
 
No outro dia
Já subero diferente
Que caiu inconsciente
O sargento Galamar
 
Que disafôro
Agredir um combatente
Com medalha de tenente
Que cansou de guerriar
 
O delegado
Convocou seu assistente
Relatou o incidente
Pro juiz da capitá
 
Na prefeitura
Já ligaro pro servente
Suspender o expediente
Pro prefeito dispachar
 
Um desacato
Fadigar um homem crente
Cidadão obediente
Com um nome pra zelar
 
Não acredito
Que meu pai, um inocente
Se tornou um depoente
Dum sargento marruá
 
Quem ele pensa
Um homem bom e decente
Lhe fazer de paciente
O seus dente lhe quebrar
 
Inconformado
Com a quebra de patente
Reuniu os combatente
Pro sargento expulsar
 
O delegado
Nesse dia esteve ausente
Viajou do continente
Pra pueira esfriar
 
Do que me lembro
Tenho um primo escrevente
Que é muito influente
No sertão do Quixadá
 
Meu pai me disse
Quando era adolescente
Tinha fama de valente
Não sabia o que é brigar
 
Porque um dia
Se valeu de um doente
Derrotou uma serpente
Que pariu num caçuá
 
Agora veja
A garrafa era somente
Pra fazer um caldo quente
Na quermesse do lugar
 
Tem cabimento
Um sargento saliente
Confiscar o aguardente
Do quentão do arraiá
 
Quando acordei
O meu pai já foi embora
Coração ainda chora
Que nem posso lhe contar!!!!





 


quarta-feira, 3 de agosto de 2016

CARITÓ DE REVESTRÉS

 
 
Na minha roça não chove
Nem um caroço de chuva
Nem solteira nem viúva
Nem moça de caritó
Quem aceita um arigó
Que pissui quatro pataca
Um jumento e uma vaca
Pouco geno no paiol
Uma linha com anzol
Numa vara de pescar
Um jogo de caçuá
Uma galinha peróca
Um caco de tapioca
Uma saca de feijão
Um calado coração
Isborrotado de dor
Caricido dum amor
Que encha minha cumbuca
Que caia na arapuca
Que armei pra lhe pegar
Faço plano de casar
Fazer bastante minino
Se num for do meu distino
Pelo meno a muié
Pra fazer uns cafuné
Nas hora das liberdade
Me tirar da virgindade
Que tanto me aperrêa
Em noite de lua cheia
Dá suadêra nos pé
Num pisei num cabaré
Meu querido Santo Antônio
Me tire desse medonho
Caritó de revestrés!!!