domingo, 21 de fevereiro de 2010

TAMARINEIRO QUERIDO


Marco zero centenário
Fortaleza de raiz
Encontro das montarias
Para a missa na Matriz
A sombra dos namorados
Daquele tempo feliz
II
Rodeado de cavalos
Logo no raiar do dia
Era gente que chegava
Pra novena de Maria
Era festa pro Francisco
Era tempo de alegria
III
A historia que te conta
Não te conta de menino
Se hoje és fortaleza
Já foste galho franzino
Viste erguer a capela
Ouviste tocar o sino
IV
Tamarineiro me contas
O que fizeram contigo
Antigamente frondoso
Te puseram de castigo
Deceparam teus cabelos
Se fingindo de amigo
V
Já sangrastes de resina
Pelo golpe do machado
Já te fizeram de lenha
Te deixaram mutilado
Agora te protegeram
Te puseram cadeado
VI
Senhor de terceira idade
Hoje em dia bajulado
Já ganhou placa de bronze
Arvoredo jubilado
Meu velho Tamarineiro
Teu tronco no cativeiro
Meu sonho realizado!!!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

CASA VELHA


Casa velha hospitaleira
Recanto de todos nós
Teto dos nossos avós
Velha senhora querida
II
Já se foram tantas vidas
E tu aí feito louça
Jeito de menina moça
Parece dona do tempo
III
Casa velha bajulada
Rodeada de carinho
Morada de passarinho
Rouxinol dorme na sala
IV
Gigantes carnaubeiras
A te fazer companhia
Te protegem noite e dia
De raios e trovoadas
V
O velho gurgurizeiro
Terreiro de galamá
Leva a vida a pastorar
Quem tira peixe do rio
VI
O vento que te embala
Que te sopra o dia inteiro
Fustigante sorrateiro
Penetra na camarinha
VII
O rio no seu namoro
Quando te lambe o batente
Sempre deixa de presente
Uma lagoa de ouro
VIII
Casa de tantas serestas
Luaradas e fogueiras
Moças de boas maneiras
Tomavam banho de lua
IX
Deixei nome no reboco
Da tua velha parede
Cochilei na tua rede
Noutro dia fui embora
X
Quisera tu me tocastes
De herança de quinhão
Não sabes quanto me tocas
Se tombares pelo chão
No fundo, nas entrelinhas
Tuas paredes são minhas,
Paredes do coração!!!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A CHUVA


Chuva cheirosa, respingando da telha,
Causando uma garoa fina sobre a nossa rede.
Pela manhã, um alvoroço, alegria geral, a chuva veio.
Não há nada que traga mais alegria, que os pingos mágicos da chuva,
Todos resistem, horas e mais horas, capinando sob chuva forte,
Sem se importar com o frio. Fica-se na chuva o dia inteiro,
Plantando a semente que se perderia, não fosse a chegada da
Deusa Adorada, a derramar suas lágrimas suculentas e fertilizantes.
Por várias vezes, voltei pra casa todo enrugado, encharcado e
Ainda ia em desabalada carreira, tomar banho de rio,
Onde a água era mais quentinha.
Que doces lembranças me trás a chuva.
No roçado, em poucos dias, já se via a semente brotar,
Logo-logo vem a colheita.
A lida é dura, o sol escaldante, inclemente,
Ignora o chapéu de palha e nos doura a pele sem piedade.
A chuva aqui na cidade, “é do mal”; engarrafa, destrói, alaga,
Desabriga, emudece o telefone e acaba com a luz.
Também, até os rios que lhe cruzam são asfaltados,
Tiraram o mato e colocaram cimento, e quando alaga,
Dizem que é castigo.
Se eu falar o que a chuva faz na minha terra, ninguém acredita.
Lá a chuva nunca incomoda. Chuva lá, é coisa de Deus,
Lá se diz: “Tá bonito pra chover”.
Na cidade é chamada de “tempo feio”,
Só serve pra baixar a poluição, que desperdício!
Chuva inocente, pingos de semente,
Que se precipita sem saber de nada,
Por vezes destrói, alaga e desabriga, por outras
Trás alegria e abundância.
Amiga chuva, daqui te peço,
Não abandones minha boa terra que tanto te venera,
Vai lá, mais a miúde, encha-lhe os rios, açudes e lagos,
Deixe tudo verdinho, depois passe na cidade, mas chova pouco e,
Não lhe faça morada, pois aqui, ninguém lhe tem carinho!!!